CIENTIFICISMO + LIRISMO

Mas a vida é tão maior que as palavras...

"(...)quando o acontecimento não cabe nas palavras, eu costumo usar as palavras, ao contrário, para caberem no acontecimento. Não é a mesma coisa, né, mas quase serve."

(Thami)

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Um conto de Luz

A máscara apossara-se de seu pequeno corpo de anjo. Impunha-lhe feições demoníacas. Era agonizante vê-la assim, tamanho o Amor que compartilhava com ela.

Veio em minha direção, como uma marionete mau manejada. Sorria um sorriso nefasto, que lhe dava contornos de um fantoche espalhafotasamente dirigido pelo ventríloco. Aquela cena patética partía-me o coração de maneiras que não podem ser verbalizadas, drenava o ar de meus pulmões, enturvava-me a vista, abria o chão embaixo dos meus pés.

Quando achava que eu não aguentaria mais, estiquei a mão para a cadeira, em busca de apoio - não podia me deixar vencer, não podia abandoná-la sob aquilo. Meus dedos emaranharam-se em um fluido de pano gasto. Era seu echarpe. O que ela me fizera comprar-lhe, quando me arrastou para a feira, há tanto tempo... e que ela usava o tempo todo, não o tirava nem para dormir.

O chão continuava a se abrir embaixo dos meus pés, mas, em um momento, eu não mais caía naquele buraco sem fim. Eram tantas lembranças, tanta Felicidade, tanto Amor que subiam por entre meus dedos... Meu coração voltou a integrar-se, o ar voltou aos meus pulmões, minha visão clareou. Brotou um frio em minha barriga. Ânsia. Ânsia de ter de volta meu Anjo. As lembranças e os sentimentos me davam forças fabulosas.

Pisquei os olhos, e o momento esvaiu-se. Voltei para a sala. Voltei para brigar.

Joguei para ela o echarpe, segurando uma das pontas. Parou e agarrou-o, com seus toscos movimentos de marionete.

Ficamos ali, a um metro um do outro, encarando-nos, olhos nos olhos. Não pisquei uma vez sequer. Podia sentir as lembranças e sentimentos fluindo, também sem fraquejar um segundo, através do echarpe, para ela.

Aos poucos, vi seus doces olhos emergindo da névoa sinistra que sobrepunha seu rosto e controlava seu corpo; a máscara começou a perder sua exuberância, tornou-se velha; os fios invisíveis que a manipulavam afrouxaram-se; ela caiu no sofá.

Fui, sem soltar o echarpe, até ela. Abaixei ao seu ouvido, sem qualquer temor, sabendo em minha alma que aquilo nada mais podia contra nós, e sussurei:

- Sai!

A máscara disparou, como uma bala que sai pela culatra, indo cair do outro lado da sala. Evaporou. Derretou. Sumiu.

O echarpe permaneceu em nossas mãos.

O Anjo estava finalmente completo novamente, corpo de volta ao rosto, Luz de volta a ela. Encaramo-nos uma vez mais.

Abraçamo-nos, e o abraço durou para sempre, mais que qualquer outro.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Some day I'll flyyy

Someday I'll sooooar!



'Cause I'm bigger than my body gives me credit for ;)

Lyrics: http://letras.terra.com.br/john-mayer/78794/
e letras (afinal, não quero restringir o conhecimento ¬¬ ): http://letras.terra.com.br/john-mayer/113895/


E, com essa mengagem, feliz ano novo pra todo mundo! ^^

Pout-pourri

Cheguei a tempo de te ver acordar. Eu vim correndo à frente do sol. Abri a porta e, antes de entrar, levei a vida inteira. Pa(i)rei ali e contemplei. Pensei em tudo que é possível falar, que sirva apenas para nós dois. Sinais de bem, desejos de mais, pequenos fragmentos de luz... Falar da cor dos temporais, do céu azul, das flores de abril... Sonhar beleza em abraços, saudade no olhar, amor, a amizade... Pensar além do bem e do mal... Lembrar de coisas que ninguém viu...

Pensei no tempo, e era tempo demais... Você olhou, sorrindo pra mim. E o mundo lá, sempre a rodar: a lua com certeza estava mergulhando... mas o sol vinha devagar se erguendo... Portanto este velho mundo deve ainda estar rodando, sim... E eu ainda te amo. Então feche seus olhos. Pode fechar seus olhos, está tudo bem.

Só de pensar, já me faz mais feliz. Chega e instala a beleza, momento de sonho real - chega junto, roça a pele e já quer se enroscar, lê seu pensamento, paralisa seu momento, ao se encostar. E eu simplesmente não consigo parar. Lá fora o dia já clareou.

Da janela lateral, do quarto de dormir, eu vejo uma igreja, um sinal de glória, vejo um muro branco e um vôo de um pássaro, vejo uma grade no velho sinal. Cavaleiro Negro que viveu mistérios, cavaleiro e senhor de casa e árvores, sem querer descanso nem dominical. Conheci as torres e os cemitérios, conheci os homens e os seus velórios, eu olhava da janela lateral.

E o sonho real fez surpresa pra mim, trançou o meu destino com alguém assim. Vem, meu anjo torto, vem andar comigo, numa beira de estrada, nesse lago ensolarado que eu achei pra caminhar. Feche seus olhos. Pode fechar seus olhos, está tudo bem.

E o mundo lá, sempre a rodar... Mas, em cima dele, tudo vale. Quem sabe isso quer dizer amor... Estrada de fazer o sonho acontecer.

Texto construído a partir das obras “Quem sabe isso quer dizer amor”, “Sonho real” e “Paisagem da janela”, de Lô Borges, e “You can close your eyes”, de James Taylor.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Once upon a time and forever more

Não conseguia tirar uma frase da cabeça. Não que tivesse tentado. Ou talvez fosse justamente isso: a frase era muito boa, boa demais. Era o tipo de frase que ele esperava, há algumas semanas, que o fizesse debulhar-se em lágrimas ao longo dessas semanas. (Isso é uma qualidade das melhores, para uma frase.)

Mas onde estavam as lágrimas? Não tirava a frase da cabeça, no entanto não vinha uma lágrima sequer turvar-lhe a vista. Começava a sentir-se incomodado com essa apatia, com essa solidez de seu outrora tão flácido coração. O que só o fazia pensar ainda mais na frase - era realmente fabulosa.

Sua "emocionalidade" estava em perfeitas condições, com isso não precisava se preocupar. Aliás, estava até mais emotivo que de praxe - o frio na barriga brotando de quase qualquer coisa, o brilho-poético no olhar era quase perene... Inclusive imaginação e memória estavam a toda, trabalhando veementemente, ao ritmo do Hino à Alegria de Beethoven. Recordações fantasiosas não lhe faltavam. E, ainda assim, sequer um traço de desolação. A frase realmente era boa.

Vale ressaltar, e ele prendia-se repetidamente neste ponto, que quase não haviam más recordações. Houveram, sim, e muitas, "experiências desagradáveis", para descrevâ-las com elegância, mas, admiravelmente, elas não mais importavam. Perdoadas, esquecidas, postas de lado, ignoradas - bem ou mal, não mais importavam.
Talvez fosse obra do espírito natalino / de fim-de-ano. É a dita "época de recomeço", mas a verdade é que não há final. Por isso não deixamos as coisas para trás quando elas acabam - porque elas não acabam.
Utilizando uma frase de efeito, brincando com transitividade: vivemos o presente, vivemos do passado, vivemos para o futuro. O passado não acaba, porque ele nos fez. E vai continuar nos fazendo, se optarmos por continuar carregando-o, em nossa mente.
Aí está o real sentido da "época de recomeço": olhar pra trás e perdoar, olhar pra trás e agradecer, olhar pra trás e sentir saudade, olhar pra trás e deixar pra trás o que for ruim, olhar para trás e trazer o que for bom - fazermo-nos com aquilo que é bom.
E a frase fica cada vez melhor.

Saudade. Ah, a saudade... A doce e carinhosa certeza de que a vida não passou inutilmente... E essa certeza não poderia afastar mais as lágrimas; trouxe também a compreensão - não mais lhe incomodava, agora, a ausência de lágrimas, nem lhe parecia duro seu coração.

Foi num momento como este, ao recordar-se da felicidade, que a frase gravou-se em sua cabeça. E não saiu mais. E nem vai.

Depois de mais um dia sem conseguir dormir após o almoço, foi até a foto da turma e escreveu no verso: see you in my dreams.

E dormiu como um anjo aquela noite.

sábado, 13 de dezembro de 2008

MATEMÁTICA DE DEUS

Marcos Rosa, Giovani Laquini, Pedro Hissa

A natureza permeia o pensamento humano desde o início dos tempos: a refração da luz, os átomos, o crescimento das plantas, as espirais das galáxias, os marfins de elefantes, as ondas no oceano, furacões... A admiração desses e de tantos outros elementos naturais, buscando a compreensão da perfeição neles observada, caminha lado a lado com o ser humano em sua história, dando, inclusive, origem à ciência. Em milênios de existência, homem e ciência têm convivido com uma impressão: Deus pode escrever certo por linhas tortas, mas é inegável seu gosto pela perfeição.

Qual a relação entre o aumento do diâmetro das espirais das sementes de um girassol, a redução do tamanho das folhas de uma árvore à medida que esta ganha altura, o crescimento de seus galhos, o número de abelhas e zangões em uma colméia e o crescimento do raio do interior da concha de uma espécie de caramujo? Todos esses elementos naturais, como inúmeros outros, obedecem a uma determinada proporção.




Essa razão é conhecida desde a Antiguidade, quando já era usada pelo homem em suas próprias criações, por ser considerada um símbolo de harmonia, dada sua tão marcante presença na natureza. Sua história, antiga e misteriosa como sua origem, perde-se no tempo. As pirâmides do Egito obedeciam a essa proporção, assim como muitas estátuas milenares e também as medidas de um documento histórico, o Papiro de Rhind, datado de mais de 1600 a.C. - o qual continha referências a uma “razão sagrada”.

O Papiro de Rhind



As pirâmides do Egito

Muito tempo mais tarde, por volta do século V a.C., o escultor e arquiteto grego Phideas construiu o famoso Partenon, utilizando-se dessa mesma razão, revelando uma preocupação em realizar uma obra bela e harmoniosa. A “razão sagrada” era marca registrada do trabalho de Phideas, de modo que esta recebeu, em homenagem, seu nome: a letra grega Φ (Phi, maiúsculo).

O Partenon na acrópole de Atenas

O Φ foi objeto de estudo de inúmeros matemáticos e pensadores ao longo da história. Os Pitagóricos estudaram a “razão de ouro”, como também é chamada: na construção da estrela pentagonal inscrita em uma circunferência, não conseguiram uma conta exata na divisão entre as medidas do lado do pentágono estrelado e do lado do pentágono regular. Chamaram, então, essa razão, o próprio número Φ, de irracional, pois tal resultado ia contra toda a lógica que conheciam e defendiam até então. Surgia, assim, o primeiro número irracional.

O Pentágona pitagórico

Posteriormente, os gregos consideraram que o retângulo cujos lados possuíam essa relação apresentava uma especial harmonia estética e lhe chamaram “retângulo áureo“, ou “retângulo de ouro”, considerando essa harmonia como uma virtude excepcional.

O Φ ganhou ainda maior notoriedade com Leonardo Da Vinci. Pode ser percebido em muitas de suas obras, inclusive na famosa Mona Lisa, tela construída com base em diversos retângulos áureos, incluindo um sobre a face da Gioconda. A proporção áurea é destaque também em outra conhecida obra de Da Vinci, o Homem Vitruviano, estudo feito pelo artista, evidenciando como o corpo humano também segue as divinas proporções.

Homem Vitruviano, de Da Vinci


A Gioconda, de Da Vinci

Leonardo de Pisa, mais conhecido como Fibonacci, também se destacou no estudo do Φ, ao criar a famosa seqüência que leva seu nome, na qual um número é sempre o resultado da soma dos dois anteriores, desenvolvida a partir da observação da reprodução de coelhos. Atentando-se à razão entre dois termos consecutivos da seqüência (1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21...), pode-se constatar que ela converge para o número áureo.

O retângulo de ouro, por estar associado a uma proporção harmoniosa e perfeita, é constantemente utilizado em projetos artísticos e arquitetônicos. Esse fato não é uma simples coincidência, uma vez que testes psicológicos comprovam que essa figura é a mais agradável de se ver, dentre os outros retângulos. É muito provável, no entanto, que empresas o utilizem de forma intuitiva na criação de seus produtos. Os cartões de crédito, por exemplo, são feitos de maneira que suas dimensões sigam o número Φ. Em relação à arquitetura moderna, a sede da Organização das Nações Unidas é um bom exemplo de aplicação do Φ, assim como as obras do arquiteto Le Corbusier, que desenvolveu um sistema de medição conhecido por “Modulor”, baseado na razão de ouro, nos números de Fibonacci e nas dimensões médias humanas.


Sede da ONU, New York


O número áureo pode ser encontrado inclusive na música. Pitágoras de Samos, em seus modelos matemáticos sobre o universo, conseguiu elaborar uma teoria que vinculava a música, o espaço e os números. Ele descobriu que se cordas de um mesmo material e sob mesma tensão estiverem em uma determinada proporção, elas emitem um som agradável, enquanto em outros casos isso não era possível. A essa proporção, deu o nome de proporção harmônica, a qual está intimamente ligada ao número Φ. Existem, também, artigos que relacionam as composições de Mozart, Beethoven (Quinta Sinfonia), Schubert e outros com a razão áurea. Pode-se verificar que até mesmo a construção de instrumentos, como o violino, segue essa proporção.



Partindo da natureza, perpassando pelas obras de arte, construções magníficas e composições incríveis, até o corpo humano, o Φ está presente em praticamente tudo na vida do homem - o gosto por perfeição de Deus garante harmonia em suas linhas tortas.





[O Φ vale marromenos 1,61803399.]

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Life like this

Look within and life, it seems, is very far from being "like this". Examine for a moment an ordinary mind on an ordinary day. The mind receives a myriad impressions - trivial, fantastic, evanescent, or engraved with the sharpness of stell. From all sides they come, an incessant shower of innumerable atoms; and as they fall, as they shape themselves into the life of Monday or Tuesday, the accent falls differently from of old...

Look within and life, it seems, is very far from being "like this". Life is not a series of gig lamps symmetrically arranged; life is a luminous halo, a semi-transparent envelope surrounding us from the beginning of consciousness to the end. Is it not the task of the novelist to convey this varying, this unknown and uncircumscribed spirit, whatever aberration or complexity it may display, with as little mixture of the alien and external as possible?... Let us record the atoms as they fall upon the mind in the order in which they fall, let us trace the pattern, however disconnected and incoherent in appearance, which each sight or incident scores upon the consciousness. Let us not take it for granted that life exists more fully in what is commonly thought big than in what is commonly thought small.


Virginia Woolf

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Axioma

O frio na barriga vem sempre que (blank) toca, geralmente acaricia, a alma.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sociedade Secreta dos Alienígenas

Respeito, consideração, decência, bom senso, educação...

Alguns conceitos nos são tão intrínsecos que comumente é difícil para nós conceber o quadro de pessoas, de um mundo que não segue tais valores.

A verdade, meus caros, no entanto, a nua, crua e podre verdade é que o mundo em que vivemos não é regido por nenhum desses valores. Pelo contrário, esses valores são martirizados em nossa sociedade; são bruxas, traidores, conspiram contra a Pátria.

Somos um povo sem terra, sem espaço, oprimido e lançado às margens da sociedade terráquea. Vivemos o Holocausto - somos caçados, castigados, disimados pelo desrespeito, pela descondireção, pela indecência, peça falta de bom senso e de educação dos que não são como nós.

Somos alienígenas em um mundo de porcos e hienas. Nossos valores são soterrados e asfixiados pelos (des)valores da sociedade em que vivemos.

Juntemo-nos, pois, eu, você e todos os mocinhos das comédias românticas hollywodianas e seus criadores, e, juntos, conjuremos nosso próprio Israel e chamemos-o de lar, e, com a força de pertencer a um lugar que nos diga respeito, we'll kick the rotten asses de todos os porcos e hienas a nossa volta!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Qual o seu tamanho?



Acho tão legal ser pequeno... Me dá o sentimento de que há tanto a se fazer.

É uma sensação fantástica a de ter metas imensas (imenso, do latim immensu; que não tem medida, não se pode medir; incomensurável, ilimitado).

É revigorante ter como limite o infinito (infinito, do latim infinitu; não finito; sem fim, termo ou limite).

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Respondendo a mim mesmo

Respondendo ao questionamento que eu fiz a mim mesmo no post Falando em dimensões, do dia 12 de julho deste ano, http://marcolinoo.blogspot.com/2008/07/falando-em-dimenses.html :

Há certos aspectos que compõem nosso "ser" que correspondem a uma parcela consideravelmente grande - aqueles pontos-chaves de nossa personalidade (ou outra palavra imprecisa que remeta a totalidade de quem nós somos). Mudar esses pontos significaria uma série de consequências diversificadas - como empurrar alguém no meio de uma multidão: o empurrão refletirá em diversas pessoas além da empurrada.

Retomando o enunciado da questão, assim me referi ao assunto:

Já enxerguei tal aspecto como sendo um indicador de progresso de minha parte... várias vezes. Assim como também já o vi, outras tantas vezes, como uma parcela da minha vida terrena material que eu simplesmente não trabalhei - o que me parece hora bom, hora ruim, dependendo fundamentalmente da minha auto-confiança.
(...)
Mas... e se for de fato algo importante, que irá me fazer falta... e eu descobrir isso do pior jeito?


Bom... Não posso dizer que sei se vai chover ou fazer sol. Não sei. Mas posso sim dizer, e digo, que não me importo mais. Espero, claro, que faça sol. Mas minha consciência não pesará, não me decepcionarei comigo mesmo, não lamentarei minhas escolhas caso chova.

Porque

mudar esse aspecto me mudaria. Não existiria a possibilidade de eu ser Eu se esse aspecto fosse any different. Não haveria como mudar esse aspecto sem mudar outros tantos, os quais eu, definitivamente, não quero mudar.

Eu poderia ser uma pessoa melhor (pra mim mesmo)? Não sei. Provavelmente sim.

Mas

como já disse antes

repito:

eu gosto de mim

ponto

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

(Um título ia estragar isto aqui...)

O frio na barriga que começa com calafrio gostoso de um calor forte que sobe a espinha e mergulha na doce embriaguez em que a mente se banha, nadando na nascente da alma, a qual desemboca no profundo interior de um céu turvo e límpido, viajando como uma montanha-russa por alvoradas e crepúsculos sucessivos e coinicidentes, se confundindo com a voracidade da correnteza quente e vivaz que trilha as veias, afogando a veracidade de sentimentos e pensamentos no surrealismo de sensações e imaginações dentro do coração, que toca remetendo a the power of the music of the night, a qual ensina a let your mind start a journey through a strange, new world, leave all thoughts of the world you knew before, let your soul take you where you long to be - only then can you belong to me.

E, pertencendo a mim, pertencemos ambos a esse estranho e novo mundo, onde nada é tudo, e nada é corpóreo, e tudo é etéreo e impalpável, inclusive eu, você, nós e aquilo que nos levou àli. Afinidade é uma das coisas mais geniais que Deus criou, né não?! Quando rola, rola... Quando não rola, não rola. Quando rola, pertencemos um ao outro e ao estranho, novo, etéreo, impalpável mundo que pertence ao que o criou e nos levou até ele: nossa afinidade.

E afinidade, como uma das mais geniais criações de Deus, comporta aquilo em que consiste o tal Reino d'Ele: amor. Afinidade conta, cria, vive inumeráveis, ou initerruptas, como queira, histórias e estórias de amor. Why do I fall in love with every woman I see who shows me the least bit of attention? Porque esse mero interesse é o bastante pra dar o frio na barriga. E tudo começa com o frio na barriga.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A piece o' thought

Why do I fall in love with every woman I see who shows me the least bit of attention?

(Jim Carrey, in Eternal Sunshine of the Spotless Mind)


sábado, 20 de setembro de 2008

O ovo e a galinha

Clarice

De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo.

Olho o ovo com um só olhar. Imediatamente percebo que não se pode estar vendo um ovo. Ver o ovo nunca se mantêm no presente: mal vejo um ovo e já se torna ter visto o ovo há três milênios. – No próprio instante de se ver o ovo ele é a lembrança de um ovo. – Só vê o ovo quem já o tiver visto. – Ao ver o ovo é tarde demais: ovo visto, ovo perdido. – Ver o ovo é a promessa de um dia chegar a ver o ovo. – Olhar curto e indivisível; se é que há pensamento; não há; há o ovo. – Olhar é o necessário instrumento que, depois de usado, jogarei fora. Ficarei com o ovo. – O ovo não tem um si-mesmo. Individualmente ele não existe.

Ver o ovo é impossível: o ovo é supervisível como há sons supersônicos. Ninguém é capaz de ver o ovo. O cão vê o ovo? Só as máquinas vêem o ovo. O guindaste vê o ovo. – Quando eu era antiga um ovo pousou no meu ombro. – O amor pelo ovo também não se sente. O amor pelo ovo é supersensível. A gente não sabe que ama o ovo. – Quando eu era antiga fui depositária do ovo e caminhei de leve para não entornar o silêncio do ovo. Quando morri, tiraram de mim o ovo com cuidado. Ainda estava vivo. – Só quem visse o mundo veria o ovo. Como o mundo o ovo é óbvio.

O ovo não existe mais. Como a luz de uma estrela já morta, o ovo propriamente dito não existe mais. – Você é perfeito, ovo. Você é branco. – A você dedico o começo. A você dedico a primeira vez.

Ao ovo dedico a nação chinesa.

O ovo é uma coisa suspensa. Nunca pousou. Quando pousa, não foi ele quem pousou. Foi uma coisa que ficou embaixo do ovo. – Olho o ovo na cozinha com atenção superficial para não quebrá-lo. Tomo o maior cuidado de não entendê-lo. Sendo impossível entendê-lo, sei que se eu o entender é porque estou errando. Entender é a prova do erro. Entendê-lo não é o modo de vê-lo. – Jamais pensar no ovo é um modo de tê-lo visto. – Será que sei do ovo? É quase certo que sei. Assim: existo, logo sei. – O que eu não sei do ovo é o que realmente importa. O que eu não sei do ovo me dá o ovo propriamente dito. – A Lua é habitada por ovos.

O ovo é uma exteriorização. Ter uma casca é dar-se.- O ovo desnuda a cozinha. Faz da mesa um plano inclinado. O ovo expõe. – Quem se aprofunda num ovo, quem vê mais do que a superfície do ovo, está querendo outra coisa: está com fome.

O ovo é a alma da galinha. A galinha desajeitada. O ovo certo. A galinha assustada. O ovo certo. Como um projétil parado. Pois ovo é ovo no espaço. Ovo sobre azul. – Eu te amo, ovo. Eu te amo como uma coisa nem sequer sabe que ama outra coisa. – Não toco nele. A aura de meus dedos é que vê o ovo. Não toco nele – Mas dedicar-me à visão do ovo seria morrer para a vida mundana, e eu preciso da gema e da clara. – O ovo me vê. O ovo me idealiza? O ovo me medita? Não, o ovo apenas me vê. É isento da compreensão que fere. – O ovo nunca lutou. Ele é um dom. – O ovo é invisível a olho nu. De ovo a ovo chega-se a Deus, que é invisível a olho nu. – O ovo terá sido talvez um triângulo que tanto rolou no espaço que foi se ovalando. – O ovo é basicamente um jarro? Terá sido o primeiro jarro moldado pelos etruscos ? Não. O ovo é originário da Macedônia. Lá foi calculado, fruto da mais penosa espontaneidade. Nas areias da Macedônia um homem com uma vara na mão desenhou-o. E depois apagou-o com o pé nu.

O ovo é coisa que precisa tomar cuidado. Por isso a galinha é o disfarce do ovo. Para que o ovo atravesse os tempos a galinha existe. Mãe é para isso. – O ovo vive foragido por estar sempre adiantado demais para a sua época. – O ovo por enquanto será sempre revolucionário. – Ele vive dentro da galinha para que não o chamem de branco. O ovo é branco mesmo. Mas não pode ser chamado de branco. Não porque isso faça mal a ele, mas as pessoas que chamam ovo de branco, essas pessoas morrem para a vida. Chamar de branco aquilo que é branco pode destruir a humanidade. Uma vez um homem foi acusado de ser o que ele era, e foi chamado de Aquele Homem. Não tinham mentido: Ele era. Mas até hoje ainda não nos recuperamos, uns após outros. A lei geral para continuarmos vivos: pode-se dizer “um rosto bonito”, mas quem disser “O rosto”, morre; por ter esgotado o assunto.

Com o tempo, o ovo se tornou um ovo de galinha. Não o é. Mas, adotado, usa-lhe o sobrenome. – Deve-se dizer “o ovo da galinha”. Se eu disser apenas “o ovo”, esgota-se o assunto, e o mundo fica nu. – Em relação ao ovo, o perigo é que se descubra o que se poderia chamar de beleza, isto é, sua veracidade. A veracidade do ovo não é verossímil. Se descobrirem, podem querer obrigá-lo a se tornar retangular. O perigo não é para o ovo, ele não se tornaria retangular. (Nossa garantia é que ele não pode: não poder é a grande força do ovo: sua grandiosidade vem da grandeza de não poder, que se irradia como um não querer.) Mas quem lutasse por torná-lo retangular estaria perdendo a própria vida. O ovo nos expõe, portanto, em perigo. Nossa vantagem é que o ovo é invisível. E quanto aos iniciados, os iniciados disfarçam o ovo.

Quanto ao corpo da galinha, o corpo da galinha é a maior prova de que o ovo não existe. Basta olhar para a galinha para se tornar óbvio que o ovo é impossível de existir.

E a galinha? O ovo é o grande sacrifício da galinha. O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida. O ovo é o sonho inatingível da galinha. A galinha ama o ovo. Ela não sabe que existe o ovo. Se soubesse que tem em si mesma o ovo, perderia o estado de galinha. Ser galinha é a sobrevivência da galinha. Sobreviver é a salvação. Pois parece que viver não existe. Viver leva a morte. Então o que a galinha faz é estar permanentemente sobrevivendo. Sobreviver chama-se manter luta contra a vida que é mortal. Ser galinha é isso. A galinha tem o ar constrangido.

É necessário que a galinha não saiba que tem um ovo. Senão ela se salvaria como galinha, o que também não é garantido, mas perderia o ovo. Então ela não sabe. Para que o ovo use a galinha é que a galinha existe. Ela era só para se cumprir, mas gostou. O desarvoramento da galinha vem disso: gostar não fazia parte de nascer. Gostar de estar vivo dói. – Quanto a quem veio antes, foi o ovo que achou a galinha. A galinha não foi sequer chamada. A galinha é diretamente uma escolhida. – A galinha vive como em sonho. Não tem senso de realidade. Todo o susto da galinha é porque estão sempre interrompendo o seu devaneio. A galinha é um grande sono. – A galinha sofre de um mal desconhecido. O mal desconhecido é o ovo. – Ela não sabe se explicar: “ sei que o erro está em mim mesma”, ela chama de erro a vida, “não sei mais o que sinto”, etc.

“Etc., etc., etc.,” é o que cacareja o dia inteiro a galinha. A galinha tem muita vida interior. Para falar a verdade a galinha só tem mesmo é vida interior. A nossa visão de sua vida interior é o que chamamos de “galinha”. A vida interior na galinha consiste em agir como se entendesse. Qualquer ameaça e ela grita em escândalo feito uma doida. Tudo isso para que o ovo não se quebre dentro dela. Ovo que se quebra dentro de galinha é como sangue.

A galinha olha o horizonte. Como se da linha do horizonte é que viesse vindo um ovo. Fora de ser um meio de transporte para o ovo, a galinha é tonta, desocupada e míope. Como poderia a galinha se entender se ela é a contradição de um ovo? O ovo ainda é o mesmo que se originou na Macedônia. A galinha é sempre tragédia mais moderna. Está sempre inutilmente a par. E continua sendo redesenhada. Ainda não se achou a forma mais adequada para uma galinha. Enquanto meu vizinho atende ao telefone ele redesenha com lápis distraído a galinha. Mas para a galinha não há jeito: está na sua condição não servir a si própria. Sendo, porém, o seu destino mais importante que ela, e sendo o seu destino o ovo, a sua vida pessoal não nos interessa.

Dentro de si a galinha não reconhece o ovo, mas fora de si também não o reconhece. Quando a galinha vê o ovo pensa que está lidando com uma coisa impossível. É com o coração batendo, com o coração batendo tanto, ela não o reconhece.

De repente olho o ovo na cozinha e vejo nele a comida. Não o reconheço, e meu coração bate. A metamorfose está se fazendo em mim: começo a não poder mais enxergar o ovo. Fora de cada ovo particular, fora de cada ovo que se come, o ovo não existe. Já não consigo mais crer num ovo. Estou cada vez mais sem força de acreditar, estou morrendo, adeus, olhei demais um ovo e ele me foi adormecendo.

A galinha não queria sacrificar a sua vida. A que optou por querer ser “feliz”. A que não percebia que, se passasse a vida desenhando dentro de si como numa iluminura o ovo, ela estaria servindo. A que não sabia perder-se a si mesma. A que pensou que tinha penas de galinha para se cobrir por possuir pele preciosa, sem entender que as penas eram exclusivamente para suavizar, a travessia ao carregar o ovo, porque o sofrimento intenso poderia prejudicar o ovo. A que pensou que o prazer lhe era um dom, sem perceber que era para que ela se distraísse totalmente enquanto o ovo se faria. A que não sabia que “eu” é apenas uma das palavras que se desenham enquanto se atende ao telefone, mera tentativa de buscar forma mais adequada. A que pensou que “eu” significa ter um si-mesmo. As galinhas prejudiciais ao ovo são aquelas que são um “eu” sem trégua. Nelas o “eu” é tão constante que elas já não podem mais pronunciar a palavra “ovo”. Mas, quem sabe, era disso mesmo que o ovo precisava. Pois se elas não estivessem tão distraídas, se prestassem atenção à grande vida que se faz dentro delas, atrapalhariam o ovo.

Comecei a falar da galinha e há muito já não estou falando mais da galinha. Mas ainda estou falando do ovo.

E eis que não entendo o ovo. Só entendo o ovo quebrado: quebro-o na frigideira. É deste modo indireto que me ofereço à existência do ovo: meu sacrifício é reduzir-me à minha própria vida pessoal. Fiz do meu prazer e da minha dor o meu destino disfarçado. E ter apenas a própria vida é, para quem viu o ovo, um sacrifício. Como aqueles que, no convento, varrem o chão e lavam a roupa, servindo sem a glória de função maior, meu trabalho é o de viver os meus prazeres e as minhas dores. É necessário que eu tenha a modéstia de viver.

Pego mais um ovo na cozinha, quebro-lhe a casca e forma. E a partir deste instante exato nunca existiu um ovo. É absolutamente indispensável que eu seja uma ocupada e uma distraída. Sou indispensavelmente um dos que renegam. Faço parte da maçonaria dos que viram uma vez o ovo e o renegam como forma de protegê-lo. Somos os que se abstêm de destruir, e nisso se consomem. Nós, agentes disfarçados e distribuídos pelas funções menos reveladoras, nós às vezes nos reconhecemos. A um certo modo de olhar, há um jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos e a isto chamamos de amor. E então, não é necessário o disfarce: embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é necessário dissimular. Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque o amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor. E não é prêmio, por isso não envaidece, amor não é prêmio, é uma condição concedida exclusivamente para aqueles que, sem ele, corromperiam o ovo com a dor pessoal. Isso não faz do amor uma exceção honrosa; ele é exatamente concedido aos maus agentes, àqueles que atrapalhariam tudo se não lhes fosse permitido adivinhar vagamente.

A todos os agentes são dadas muitas vantagens para que o ovo se faça. Não é o caso de se ter inveja pois, inclusive algumas das condições, piores do que as dos outros, são apenas as condições ideais para o ovo. Quanto ao prazer dos agentes, eles também o recebem sem orgulho. Austeramente vivem todos os prazeres: inclusive é o nosso sacrifício para que o ovo se faça. Já nos foi imposta, inclusive uma natureza adequada a muito prazer. O que facilita. Pelo menos torna menos penoso o prazer.

Há casos de agentes que se suicidam: acham insuficientes as pouquíssimas instruções recebidas e se sentem sem apoio. Houve o caso do agente que revelou publicamente ser agente porque lhe foi intolerável não ser compreendido, e ele não suportava mais não ter o respeito alheio: morreu atropelado quando saía de um restaurante. Houve um outro que nem precisou ser eliminado: ele próprio se consumiu lentamente na sua revolta, sua revolta veio quando ele descobriu que as duas ou três instruções recebidas não incluíam nenhuma explicação. Houve outro também eliminado, porque achava que “a verdade deve ser corajosamente dita”, e começou em primeiro lugar a procurá-la; dele se disse que morreu em nome da verdade com sua inocência; sua aparente coragem era tolice, e era ingênuo o seu desejo de lealdade, ele compreendera que ser leal não é coisa limpa, ser leal é ser desleal para com todo o resto. Esses casos extremos de morte não são por crueldade. É que há um trabalho, digamos cósmico, a ser feito, e os casos individuais infelizmente não podem ser levados em consideração. Para os que sucumbem e se tornam individuais é que existem as instituições, a caridade, a compreensão que não discrimina motivos, a nossa vida humana enfim.

Os ovos estalam na frigideira, e mergulhada no sonho preparo o café da manhã. Sem nenhum senso da realidade, grito pelas crianças que brotam de várias camas, arrastam cadeiras e comem, e o trabalho do dia amanhecido começa, gritado e rido e comido, clara e gema, alegria entre brigas, dia que é o nosso sal e nós somos o sal do dia, viver é extremamente tolerável, viver ocupa e distrai, viver faz rir.

E me faz sorrir no meu mistério. O meu mistério é que eu ser apenas um meio, e não um fim, tem-me dado a mais maliciosa das liberdades: não sou boba e aproveito. Inclusive, faço um mal aos outros que, francamente. O falso emprego que me deram para disfarçar a minha verdadeira função, pois aproveito o falso emprego e dele faço o meu verdadeiro; inclusive o dinheiro que me dão como diária para facilitar a minha vida de modo a que o ovo se faça, pois esse dinheiro eu tenho usado para outros fins, desvio de verba, ultimamente comprei ações na Brahma e estou rica. A isso tudo ainda chamo de ter a necessária modéstia de viver. E também o tempo que me deram, e que nos dão apenas para que no ócio honrado o ovo se faça, pois tenho usado esse tempo para prazeres ilícitos e dores ilícitas, inteiramente esquecida do ovo. Esta é a minha simplicidade.

Ou é isso mesmo que eles querem que me aconteça, exatamente para que o ovo se cumpra? É liberdade ou estou sendo mandada? Pois venho notando que tudo que é erro meu tem sido aproveitado. Minha revolta é que para eles eu não sou nada, eu sou apenas preciosa: eles cuidam de mim segundo por segundo, com a mais absoluta falta de amor; sou apenas preciosa. Com o dinheiro que me dão, ando ultimamente bebendo. Abuso de confiança? Mas é que ninguém sabe como se sente por dentro aquele cujo emprego consiste em fingir que está traindo, e que termina acreditando na própria traição. Cujo emprego consiste em diariamente esquecer. Aquele de quem é exigida a aparente desonra. Nem meu espelho reflete mais um rosto que seja meu. Ou sou um agente, ou é a traição mesmo.

Mas durmo o sono dos justos por saber que minha vida fútil não atrapalha a marcha do grande tempo. Pelo contrário: parece que é exigido de mim que eu seja extremamente fútil, é exigido de mim inclusive que eu durma como justo. Eles me querem preocupada e distraída, e não lhes importa como. Pois, com minha atenção errada e minha tolice grave, eu poderia atrapalhar o que se está fazendo através de mim. É que eu própria, eu propriamente dita, só tenho mesmo servido para atrapalhar. O que me revela que talvez eu seja um agente é a idéia de que meu destino me ultrapassa: pelo menos isso eles tiveram mesmo que me deixar adivinhar, eu era daqueles que fariam mal o trabalho se ao menos não adivinhassem um pouco; fizeram-me esquecer o que me deixaram adivinhar, mas vagamente ficou-me a noção de que meu destino me ultrapassa, e de que sou instrumento do trabalho deles. Mas de qualquer modo era só instrumento que eu poderia ser, pois o trabalho não poderia ser mesmo meu. Já experimentei me estabelecer por conta própria e não deu certo; ficou-me até hoje essa mão trêmula. Tivesse eu insistido um pouco mais e teria perdido para sempre a saúde. Desde então, desde essa malograda experiência, procuro raciocinar desse modo: que já me foi dado muito, que eles já me concederam tudo o que pode ser concedido; e que os outros agentes, muito superiores a mim, também trabalharam apenas para o que não sabiam. E com as mesmas pouquíssimas instruções. Já me foi dado muito; isto, por exemplo: uma vez ou outra, com o coração batendo pelo privilégio, eu pelo menos sei que não estou reconhecendo! Com o coração batendo de emoção, eu pelo menos não compreendo! Com o coração batendo de confiança, eu pelo menos não sei.

Mas e o ovo? Este é um dos subterfúgios deles: enquanto eu falava sobre o ovo, eu tinha esquecido do ovo. “Falai, falai”, instruíram-me eles. E o ovo fica inteiramente protegido por tantas palavras. Falai muito, é uma das instruções, estou tão cansada.

Por devoção ao ovo, eu o esqueci. Meu necessário esquecimento. Meu interesseiro esquecimento. Pois o ovo é um esquivo. Diante de minha adoração possessiva ele poderia retrair-se e nunca mais voltar. Mas se ele for esquecido. Se eu fizer o sacrifício de esquecê-lo. Se o ovo for impossível. Então – livre, delicado, sem mensagem alguma para mim – talvez uma vez ainda ele se locomova do espaço até esta janela que desde sempre deixei aberta. E de madrugada baixe no nosso edifício. Sereno até a cozinha. Iluminando-a de minha palidez.

------------------------------

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O muro, as cartolas e o social

Em cima do muro sempre foi um ótimo lugar para se estar. Isso porque, já que acreditam que "em cima do muro" não existe, posso ora pular para cá e estar deste lado, ora pular para lá e estar daquele lado, ora pular para acolá e estar daquele outro lado. Isso sempre foi utilíssimo, socialmente, e nada-demais, moralmente.

Sempre adorei usar cartolas. Além de me emprestar um certo ar de sapiens sapiens, ajudam a guardar certos "impulsos personais": é só tacá-los lá dentro, e ninguém vê. Isso sempre foi utilíssimo, socialmente, e nada-demais, moralmente.

Esse sempre fui eu. Em cima do muro, cartola na cabeça.

Mas...

...chegou uma época em que as coisas começaram a se complicar (leia-se serem complicadas). Nesse vai e vem de cima do muro, gradualmente, as cartolas começaram a se encher demais, em função de manter o social vivo.

Aí elas explodiram. E implodiram o muro. E o social morreu. E tudo passou a ser algo demais, moralmente.

sábado, 13 de setembro de 2008

With all my Hearts

Cara, eu amo poker.
O que não quer dizer que eu sempre tenha sorte o tempo todo.
Em dez rodadas, saí com um par, o bastante pra sair de trinta fichas pra zero.
Daí, graças a santas caridades de Isinha e Sammy (vocês vão pro Céu :* ), que me doavam uma ficha por rodada, só pra eu pingar e jogar (perder), durante umas 15 rodadas.
Até que...
eu ganho uma...
Olha o comeback!
e mais uma...
Alguém me seguuuure!!!
e mais uma....
I'm on fiiiire, baby!!!
Aí Sammy cansa e sai, enquanto eu atendo o Rahto no celular. Quando desligo e volto os olhos pra mesa, Isinha dobrou seu número de fichas.
AH! Caixa dois?!?
Aí Isinha também cansa, e taca all-in.
Eu pago, com um terço das fichas dela.
Abrimos nossas cartas: eu, com um 8 e uma Q de copas; ela, com um A e um K.
Fudeu.
Viramos as cartas da mesa...
Flsuh! FLUSH!!! GANHEI!!!
O QUÊ?!?!?!?!

Saio correndo e dançando, com direito a moonwalk e spin 720 a la Michael Jackson.

Cara, eu amo poker.
O que quer dizer que eu sempre tenho sorte.

xD




quarta-feira, 10 de setembro de 2008

sábado, 6 de setembro de 2008

You're good 'cause you can so you do

We're feelin' so good, just the way that we do, when it's 9 in the afternoon

Beleza



Não gosto muito de ser explícito.
Acredito que as grandes belezas não podem ser explicitadas,
porque a beleza é subjetiva,
é delicada,
é sutil,
é discreta,
a beleza é etérea.

Tudo que um abraço declama, sem nada dizer.
A paixão em doses homeopáticas a cada momento juntos.
A alma vista dentro dos olhos.
Aquilo que está na maquiagem e na escova, da mesma forma que na cara amassada de quem acabou de acordar, que leva alguém a dizer: "você é linda".
O carinho implícito no tom de um "bom dia".
A sinestesia psicodélica de uma música.
A imensa carga emocional que palavras bem usadas podem carregar.
.
.
.

Se sou, às vezes, um pouco não-explícito demais, é porque temo violar a pureza da beleza, caso eu a explicite demais.
Não-explícito talvez, omisso jamais.
Afinal, creio, um "eu te amo" faz menos jus a seu significado do que um abraço.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Yes

Could it be
that life is so beautiful
that I fall in love
each and every day
over and over again?

Could there be
so many beautiful people
enough to catch
all my love?

Guess it could.
Guess there are - they had caught.


segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Cronista

Gostei da definição (leia-se "me identifiquei com ela") de cronista do Rubem Alves:

"Pessoas que falam sempre sobre as mesmas coisas são chatas. Além do que, essa insistência em uma coisa só é contrária ao estilo de crônicas. Crônicas, para serem gostosas, devem refletir a imensa variedade da vida. Um cronista é um fotógrafo. Ele fotografa com palavras. Crônicas são dádivas aos olhos. Ele deseja que os leitores vejam a mesma coisa que ele viu."


segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Shower the people you love with love

Let the rain fall ;)



You can play the game,
And you can act out the part,
But you know it wasnt written for you,
Tell me how can you stand there,
With your broken heart,
Ashamed of playing the fool,
One thing can be to another,
It doesn't take any sacrifice,
Oh, father, and mother,
Sister and brother,
If it feels nice,
Then don't think twice,

Just shower the people you love with love,
Show them the way that you feel,
Things are gonna be just fine,
If you only will,
Just shower the people you love with love,
Show them the way that you feel,
Things are gonna be just fine,
If you only will,

You can run, but you can not hide,
This is widely known,
Tell me what you plan to do
With your foolish pride,
When your all by yourself alone,
Once you tell somebody the way that you feel,
You can feel it beginning to ease,
I think it's true what they say,
About the squeaky wheel,
Always getting the grease,

So you just, shower the people you love with love,
Show them the way you feel,
Things are gonna be much better,
If you only will,
Shower the people you love with love,
Show them the way you feel,
Things are gonna be just fine, if you only will

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Por trás do caos e das trevas

Já ouviu falar em "Oscar Póstumo"? Ainda mais vindo de uma banca tão conservadora e tradicionalista como são os jurados da Academia...?

Bom, eu nunca tinha ouvido também. Mas passei a ouvir com considerável frequência desde as vésperas da estréia de Batman - The Dark Knight. E pude constatar, hoje, finalmente, depois de muito babar de vontade, de onde saiu tamanha "ousadia".

Heath Ledger, 28, assumiu a difícil missão de ajudar Christopher Nolan a dar prosseguimento à reconstrução de um dos maiores heróis do mundo, tomando o posto de nada mais, nada menos que do até então eterno Coringa de Jack Nicholson, talvez o maior vilão de todos os tempos. Ledger conquistou a admiração de Nolan após Brokeback Mountain, atuação que rendeu o comentário, por parte do diretor, de que se tratava de "um ator fantástico, por não ter vaidade", capaz de fazer o que for necessário para dar vida a seu personagem - motivo pelo qual o escolheu para o papel.

Um demoníaco agente do caos, mas ainda um exagerado cínico lunático, o Coringa ganhou vida na pele de Ledger, que trouxe a essência do personagem à tona: um homem totalmente excêntrico, sem o menor pudor e eixo moral, aficcionado pela desordem, obcecado em expor a fragilidade do ser humano e dos planos que traçam para tudo na vida, apaixonado pelo caos por ser, de acordo com o ele, o único estado em que realmente há justiça. Impecável, convincente, assustador. Não é a toa que alguns críticos digam ser o filme inadequado para crianças: a atuação de Ledger faz com que a aura macabra e sombria do Coringa transcenda a tela.

The Joker: It's a schemer who put you where you are. You were a schemer. You had plans. Look where it got you. I just did what I do best - I took your plan and turned it on itself. Look what I have done to this city with a few drums of gas and a couple bullets. Nobody panics when the expected people get killed. Nobody panics when things go according to plan, even if the plans are horrifying. If I tell the press that tomorrow a gangbanger will get shot, or a truckload of soldiers will get blown up, nobody panics. But when I say one little old mayor will die, everyone loses their minds! Introduce a little anarchy, you upset the established order, and everything becomes chaos. I am an agent of chaos. And you know the thing about chaos, Harvey? It's fair.


The Joker: [holding a knife inside Gambol's mouth] Wanna know how I got these scars? My father was....a drinker. And a fiend. And one night he goes off crazier than usual. Mommy gets the kitchen knife to defend herself. He doesn't like that. Not. One. Bit. So, me watching, he takes the knife to her, laughing while he does it. Turns to me and he says "Why so serious?" Comes at me with the knife,"Why so serious?" He sticks the blade in my mouth. "Let’s put a smile on that face!" And..... Why so serious?

Lem cima, coloquei ousadia entre aspas. O fiz, porque, depois de ver o que vi hoje, ousadia seria não inventar o tal Oscar Póstumo e dá-lo a Ledger.



Faço aqui uma profunda reverência a esse magnífico ator e lastimo enormemente seu falecimento. O Cinema perdeu um gênio, e o Batman perdeu seu (esse sim) eterno Coringa.



Mas, ainda acima do estupendo Coringa e da magnífica atuação de Heath Ledger, destaco o papel de Christopher Nolan. Ele pegou um Batman que, por mais de 40 anos, foi gay, brincou com uma série de vilões coloridos e teatrais, em uma cidade indestrutível, e resgatou o Batman original, resgatou a essência do personagem e da história, criados, em gibis, por Bob Kane, na década de 30. Já com Batman Begins e agora com The Dark Knight, Nolan transformou os personagens unidimensionais e a caricaturesca luta do bem contra o mal em uma versão que muito mais se aproxima da realidade.

O Batman não é um herói, ele não combate o crime por justiça, porque é um herói. Ele luta como vingança pela morte dos seus pais; nem sequer é um herói: como disse o Comissário Gordon, "he's not a hero. He's a silent guardian, a watchful protector... a dark knight".

The Joker: You just couldn't let me go could you? This is what happens when an unstoppable force meets an immovable object. You truly are incorruptible aren't you? You won't kill me out of some misplaced sense of self-righteousness, and I won't kill you, because you're just too much fun. I think you and I are destined to do this forever.
Batman: You'll be in a padded cell forever.
The Joker: Maybe we can share one. Then we'll be doubling up the rate this city's inhabitants are losing their minds.

O Coringa tampouco é um palhaço do mal que destrói tudo sem quê nem porquê. Ele é louco e descontrolado, uma pessoa sem o menor pudor e eixo moral - se diz um "agente do caos". "The only sensible way to live in this world is without rules!", ele disse, porque vê nas regras e nos planos das pessoas uma fragilidade que lhe incomoda, uma inexistência intolerável de justiça, a qual ele sente necessidade de expor.

The Joker: Y'see, madness, as you know, is like gravity. All it takes is a little... push.

Os personagens não são o que são e não fazem o que fazem somente porque espera-se deles nada mais que isso. Não: os personagens são pessoas e, como qualquer pessoa, possuem uma história, uma vida, um ser por trás de seus papéis, um ser que explica quem eles são, um ser que os justifica. A própria história é o ápice do filme, simplesmente por ser o ponto central, o foco, e ser tratada e desenvolvida como tal, ao invés de existir como mero pano de fundo para os personagens: bem elaborada, complexa, detalhada, coesa e, acima de tudo, plausível.

É precisamente isso que torna essa nova série de Nolan a obra-prima que vem mostrando ser, justamente o fato de a história ir muito além daquilo que se espera dela.



Batman: Why do you want to kill me?
The Joker: [laughs] Kill you? I don't want to kill you! What would I do without you? Go back to ripping off mob dealers? No, no, you... you complete me.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O que é a coisa em si?

[ A pedido de mrs. Bárbara, que viu a questão no Jô e perguntou se podia me "dar um tema pra texto". ^^ (E usurpando ( =P ) os colchetes de doutor Raphael. ^.^' ) ]

Sempre que me perguntam o que é alguma coisa, gosto de citar o sr. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, pra eu não precisar puxar o assunto (detesto puxar assunto, sabe.. ^.^' ). (E o dito cujo vai-se fazer bem mais presente por aqui a partir de agora, graças ao seu Gustavo, que me presenteou com a versão virtual da enciclopédia de palavras - dá uma preguiça manejar a material. =P ) Pra começar, entonces:

COISA
[Var. de cousa.]

Substantivo feminino.

1.Aquilo que existe ou pode existir:
todas as coisas do Universo.

2.Objeto inanimado:
os animais e as coisas.

3.Realidade, fato:
Não veremos palavras, mas coisas evidentes.

4.Negócio, interesse:
Sabe tratar de suas coisas.

5.Empreendimento, empresa:
Agora a coisa vai.

6.Acontecimento, ocorrência, caso:
Foi assim que se deu a coisa.

7.Assunto, matéria:
Trata-se de coisa séria.

8.Causa, motivo:
Que coisa provocou o rompimento dos dois?

9.Mistério, enigma:
Aí tem coisa, ninguém a entende.

10.Pop. Perda dos sentidos, ou mal-estar ou indisposição indeterminada; troço:
Tomou uma dose exagerada do medicamento e teve uma coisa.

11.Bras. Gír. V. troço (2):
Traz esta coisa aí para eu examinar!

12.Bras. PB V. baseado1.

Substantivo masculino.

13.Bras. Pop. V. diabo (2).


Pra vocês terem uma idéia da complexidade da coisa, ela tem até vida própria, é capaz de ser ação, tem até verbo próprio pra ela e tudo. Aí, ó:


COISAR
[De coisa + -ar2.]

1.Na linguagem inculta, esse verbo substitui qualquer outro que não ocorre a quem fala.

Verbo transitivo direto. Bras. Pop.

1.Refletir, matutar; imaginar.

Verbo transitivo indireto.

2.Bras. Pop. Cuidar; preparar:
F. está coisando do almoço.


O que é a coisa em si, então?

Bom, eu sei que, de todas as coisas que existem no Universo, há as coisas e as coisas animadas, de todas as espécies, as quais tratam de suas próprias coisas, dentro de suas próprias coisas, tentando coisar a coisa, já que esta é coisa séria.
E que coisa provocou tudo isso? Uns dizem que foi Deus, outros, o Big-Bang, e outros ainda, outras coisas - mas no que todos concordam é que aí tem coisa.
Muita gente já teve coisa coisando a cabeça com essa coisa toda, a ponto de, alguns, apelar pra coisa, seja ela qual for.
Eu, por mim, não me preocupo em coisar minhas coisas com essa coisa toda. Tenho coisa melhor pra coisar, sem ficar coisando sobre coisa tão coisada.

Ah, só uma última coisinha: se a coisa pode ser Deus, o diabo e o Big-Bang, então eu diria que a coisa pode ser tudo. Mas tudo "que existe ou pode existir" - ou seja, tudo - também pode ser a coisa. Se a coisa é tudo, e tudo é a coisa, então tudo é tudo, e a coisa é a coisa. A coisa é um ciclo sem fim. A coisa é autosuficiente. A coisa é onipresente, onisciente e onipotente.

Que coisa, hã?

;D

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Deep Above

Fly (fly!)
Spread your great wings and fly (fly!)
Go up there to find
Everything you are
(2X)

Climb
The highest mountains inside of you
And
When you get way up there

Fly (fly!)
Spread your great wings and fly (fly!)
Go up there to find
Everything you are

Tell me, now, honey, what is it that bugs you?
Scream it loud, honey, your angel'll hear you
But don't just shout, honey, you too must get to you
Go deep down yourself and find your way to

Fly (fly!)
Spread your great wings and fly (fly!)
Go way up there to find
Everything you are

Climb
The highest mountains inside of you
And
When you get way up there

Fly (fly!)
Spread your great wings and fly (fly!)
Go way up there to find
Everything you are

When you get high
Deep beneath your skin
And talk to the voice within
Then you'll have

Flown (flown!)
Riding your own mind, you flew (flew!)
Helping to help yourself, you knew,
Your angel's nothing else but a part of you

And you learn
Learn that all you need is love
Love from up above
From youself and all those who you hold
Deep inside your heart
Deep inside your heart


domingo, 20 de julho de 2008

sábado, 12 de julho de 2008

Falando em dimensões...

Quando digo que há inúmeras dimensões nos mundos aqui a minha volta, me refiro, claro, a dimensões distintas - algumas assemelham-se ou mesmo coincidem em um ou vários pontos, mas, em sua totalidade, são diferentes umas das outras. Mas, apesar de diferentes, elas todas possuem uma proximidade, estão perto umas das outras (não me refiro a proximidade de espaço, porque espaço nada tem a ver com isso). Isso é como uma regra, afinal, trata-se de uma questão de afinidade, uma das leis mais básicas da natureza.

Eu, como qualquer um, possuo minhas dimensões exclusivistas, aquelas particulares, que me particularizam. Algumas até divido com alguns poucos, algumas nem isso. Mas há uma, em especial...

Bom, há uma dimensão, em especial, que me intriga. Possivelmente a parcela de mim que mais mexe com minha cabeça, embora eu não me perca em muitos devaneios acerca dela. Vejo-a como sendo um espaço extremamente remoto dentro de mim - mas, mesmo remoto, é também determinante na base de quem eu sou; uma dimensão que quebra a inquebrável regra da afinidade - ou pelo menos assim me parece: nos não muitos e não muito frequentes devaneios que invisto nela, não consigo enxergá-la mais próxima do que far far away de tudo e todos a minha volta. So so far far away que nem ao menos consigo sequer querer falar sobre isso com alguém, qualquer um.

Já enxerguei tal aspecto como sendo um indicador de progresso de minha parte... várias vezes. Assim como também já o vi, outras tantas vezes, como uma parcela da minha vida terrena material que eu simplesmente não trabalhei - o que me parece hora bom, hora ruim, dependendo fundamentalmente da minha auto-confiança.

Conscientemente, minha consciência sempre me diz que tal questão não é nem de longe tão fundamental quanto tudo e todos a minha volta a fazem parecer. Conscientemente, não me sinto nada aflito por ser o único caolho numa terra de cegos.

Inconscientemente, talvez, não sei bem, algo sempre me diz, ao contrário, que tal questão é sim importante - talvez não tanto quanto se faça parecer, mas, ainda assim, fundamental. Inconscientemente, me sinto aflito por ser o único cego em meio a um tiroteio.


É bem verdade que raramente me volto pra esse assunto. E que, quando não estou preocupado com ele, ele em nada interfere na minha vida. E, se interfere, interfere positivamente, visto que tem papel significante no meu caráter, na minha personalidade, em mim - e eu gosto de mim. É essa realidade que me leva a, conscientemente, não me preocupar com isso.

Mas... e se for de fato algo importante, que irá me fazer falta... e eu descobrir isso do pior jeito?

Quer dizer... É tipo: it's gonna be sunny or it's gonna be rainny?



Obs.: Fico sucessivamente me referindo a "dimensões" aqui. Alguém que tenha pego o bonde andando pode achar isso estranho, conversa de doido, coisa daquelas teorias malucas que pipocam por aí a toda hora... Não. Se me refiro a "dimensões", há todo um conceito por trás da palavras que vai muito além e que, na verdade, pouco tem a ver com a própria palavra. Discuti isso de "dimensões" no post "Tell me, now, what do you see?", ali em baixo. Não me taxem como doido varrido que não merece sua atenção, por favor. Pelo menos não por isso.

domingo, 6 de julho de 2008

Reverências, idolatrias, pedestais....

A carência de um público alvo adeqüado inibe meus razoavelmente freqüentes desejos de falar sobre tênis por aqui...

Mas hoje... Ahh, mas hoje...

Não vi nada de Wimbledon esse ano, graças à infeliz coincidência entre as duas semanas do torneio e as minhas duas semanas de simulado. Nem a chave do torneio eu imprimi. (O peso disso: imprimi, com uma semana de antecedência, a chave de todos os Grand Slams dos últimos dois anos, e preenchi, a mão, dia a dia, do primeiro ao último jogo, e ainda guardo todas juntas.) u.u'

Enfim... Acordei hoje, cedo, tendo visto só um jogo do torneio, gravado ainda por cima. Mas pelo menos a final eu ia ver. Federer e Nadal. Na minha lista de passatempos prediletos, tá lá, lá em cima, Federer e Nadal.

Roger Federer, o Leão da Montanha*, é considerado por muitos - por Nadal, inclusive - o "maior de todos": mais veloz, mais habilidoso, mais inteligente, mais completo, mais versátil, mais focado, mais intenso, mais brilhante, mais mais, mais tudo; um verdadeiro mago dentro de quadra, com seus inúmeros recordes, um verdadeiro gênio, o verdadeiro gênio.

Rafael Nadal, o Touro Miúra* é um monstro psicológico e físico dentro de quadra: com um foco e uma atitude perfeitos, não larga o osso por um segundo que seja, vai em todas as bolas, chega em todas as bolas, chega bem em todas as bolas; menos habilidoso, menos genial, menos completo, menos versátil, mas perfeito tatica, fisica e mentalmente, o tempo todo.

Números 1 e 2 do mundo, respectivamente, já há mais de quatro anos, os (a essa altura) compadres já se enfrentaram 17 vezes - maior rivalidade do tênis atual, de longe. No embate de titãs, a soma de vetores sempre tendeu para o lado espanhol: Federer 6 x Nadal 11. O suiço sempre demonstrou grandes dificuldades - aquelas que todos têm ao jogar contra ele - ao enfrentar o espanhol. A situação chegou ao ponto de Federer ser dito freguês de Nadal.

Ao longo desse caminho, o 1 tornou-se Imperador de Wimbledon, com 5 títulos consecutivos e status de Deus em Londres; o mesmo com o 2, em Paris: tricampeão consecutivo, nunca perdeu um jogo sequer em Roland Garros, o Rei do saibro.

A única coisa que impedia um de conquistar o império do outro é o próprio outro. Roland Garros, maio/junho de 2006, final, Nadal e Federer, vitória de Nadal. Wimbledon, junho/julho de 2006, final, Federer e Nadal, vitória de Federer. Roland Garros, maio/junho de 2007, final, Nadal e Federer, vitória de Nadal. Wimbledon, junho/julho de 2007, final, Federer e Nadal, vitória de Federer.

Eis que chega 2008. Federer investe pesado em seu jogo no saibro, visando abertamente enfim ganhar o Aberto da França. Entrou como um foguete nos 2 Maters que antecederam Roland Garros, jogou como nunca no saibro, chegou com tudo em ambas as finais. E, em ambas as finais, tremeu diante de Nadal, chegando a liderar alguns sets por 5x1 e perder por 7x5. Sem se deixar abalar, chegou como um trator nas quadras de Paris e à final. Somente para sofrer a pior derrota que já o vi sofrer, em um jogo patético de menos de 2 horas.

Mas tudo bem, em Wimbledon seria sua vez.

Não vi seus jogos, somente a semi-final gravada. O bastante pra me impressionar. Fazia tempo não o via tão bem. Perdeu seu saque somente duas vezes em todo o torneio.

Estou me esquecendo do espanhol. Nadal também, ouvi dizer, chegou voando à final, como tem sido em todo o ano. E que ano! Nadal atingiu seu auge: seus adversário andam se matando para ganhar um, dois games dele.

Enfim...

Não poderia existir atmosfera melhor para receber a grande final do maior torneio da história do tênis, com mais de 120 anos de tradição. A quadra central do All England Club consiste no maior templo do esporte. E tanta magia não merece nada menos que uma final tão tão, entre dois dos maiores da história.

10 horas, hora do espetáculo.

Mas a chuva chegou antes. O início da transmissão mostra uma lona sobre a verde e desgastada grama. E assim foi por mais de uma hora.

O início da partida veio um pouco antes de o Sportv se dar conta e parar de reprisar a final feminina, de modo que perdi os dois primeiros games, então quando a eles, nada posso dizer.
Quanto ao resto, por outro lado...

O jogo começou equilibrado, ambos jogando muito bem, muito sólidos, muito focados, com muita vontade.

Mas Federer escorregou, como ele sempre escorrega contra Nadal, e perdeu o saque pela terceira vez no torneio. O espanhol, que nunca escorrega contra Federer, não escorregou, e levou a vantagem até o final do set, até o 6x4.

O segundo set foi mero replay do primeiro. Outro 6x4 para Nadal.

O terceiro ia da mesma forma, equilíbrio total, ainda sem o escorrego de Federer. A hora da onça beber água** chegou, 4x4, Federer no saque, 40 iguais, e a chuva veio matar a sede da onça. E lá se vai mais meia hora de reprise, agora do jogo que eu gravei.

O sol, aquele sol sem vergonha londrino, resolveu sair e assistir o jogo, que esquentou diante do novo espectador.

Federer não escorregou, levou o set ao tie-brake e venceu.

O quarto set seguiu com um equilíbrio ainda maior, o que eu achava impossível. Sem quebras de saque, de volta ao tie-brake. E que tie-brake! Pra falar pouco, Nadal fez mágica para chegar ao match-point, com o saque. Federer contra-atacou com mágica ainda mais absurda, para salvar o match-point. E acabou ganhando o set.

Nessa brincadeira, sem contar as paralizações, já se havim ido quase 4 horas de jogo. Cenário perfeito para um quinto set sem tie-brake.

Eu, já sentado na ponta do sofá, tremendo de excitação, assisti a mais um pouquinho de puro equilíbrio, que levou o set a 2x2 e 40 iguais, antes de o sol se retirar, nervoso que estava. E dá-lhe chuva.

Quando a chuva foi embora, o sol não voltou - já anoitecia em Londre. E mais essa: Wimbledon, com todas suas tradiões centenárias, não usa luz artificial. Graças a Deus que o verão europeru vê luz do dia até 10 da noite. E já eram mais de 9.

Foram-se mais quase uma hora, e o jogo chegou a um final indescritivelmente indescritível. À altura do 6x6 eu já gritava com cada ponto - e olha que eu não torcia pra ninguém; ou melhor, torcia pros dois, torcia pro jogo não acabar nunca mais. A coisa chegou a um ponto em que não havia nada que separasse os dois, eles eram iguais, perfeitos. Uma batalha épica, digna de Cavaleiros do Zodíaco, Senhor dos Anéis, Tróia, Matrix e qualquer outra. A coisa chegou a um ponto em que a única razão que levaria um dos dois, qualquer um dos dois, a vencer seria que alguém tem que vencer. Eu, por mim, rachava o troféu no meio e dava metade pra cada. Faria o mesmo com a glória, mas nisso existe justiça, e ela estava muito a minha frente: não existe glória maior que fazer o que aqueles dois estavam fazendo ali. E não existe glória maior, pra mim, que assistir àquilo, assistir à história sendo feita.

O jogo terminou, infelizmente, com incríveis (mas poderiam ser mais) 4 horas e 48 minutos. 3 sets a 2: 6-4 / 6-4 / (5)6-7 / (8)6-7 / 9-7. E eu terminei também, extasiado, emocionado - lágrimas chegaram a pular dos meus olhos, querendo elas também ver o espetáculo. Um jogo que tomou proporções tão incríveis, que agora simplesmente não consigo mais usar palavras pra me expressar.

Tudo que me resta para manifestar alguma voz são reverências, idolatrias, pedestais....

*Títulos conferidos pelo comentarista Dácio Campos. **Expressão do comentarista Osvaldo Maraucci.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Hino aos Otários



Por amor às causas perdidas. ;)

domingo, 29 de junho de 2008

Tell me, now, what do you see?


"A quarta dimensão é o tempo, tô te falando!"
"Não do ponto de vista da álgebra linear. É só uma questão de localização do vetor."

Para os cartoons, existem duas dimensões; para o senso comum, três; para os pseudo-entendidos de física, quatro; para os físicos de verdade, treze; para os matemáticos, n... Mas isso é o tipo de discussão inútil que amigos nerds gostam de ter quando se juntam. Se me perguntassem, ali, - o que não foi o caso, porque, infelizmente, peguei só o finalzinho da conversa dos amigos nerds - eu encheria a boca com um pouco do meu ralo conhecimento de física quântica.

Se eu tivesse tempo pra pensar no sentimento, no entanto...


- Marcos, quantas dimensões você acha que existem, afinal?
- Hmm...
- Me diz quantas dimensões você vê - diz algum amigo não-nerd e que não gosta do rumo do papo.
- Quantas você vê? - eu respondo.
- Eu vejo três, ora.
- Pois eu vejo muito mais.
- Você vê mais que três dimensões? Você mais que três dimensões? - céticos e debochados.
Em meio a risos - o que muito me agrada, já que, como se sabe, gosto de fazer meus amigos rirem -, o assunto morre e outro surge, para alívio dos não-nerds.

A vida acontece mais dentro do que fora da gente. E, por isso mesmo, ela é sentimento, emoção, memória, assim como as pessoas também o são. O mundo não é material, o mundo é emocional. Os olhos não estão no mundo, o mundo está nos olhos.

Eu olho para aquela foto ali em cima e para o título: Tell me, now, what do you see?

Eu vejo memória, sentimento, emoção. Não vejo três dimensões, materiais. Não. Vejo infinitas, emocionais.

Vejo uma em que números dançam, pulam, brincam, riem... Vejo outra cheia de facas e canivetes de brinquedo, ketchup e colírio... Em outra, vejo, por anos a fio, quadras, cestas, gols, redes, raquetes, bolas bolas bolas bolas... Uma outra ressoa com conversas infindáveis, sem começo nem fim, lindamente infinitas. Adoro quando chega aquela em que ursinho de pelúcia se torna real, e ele me abraça tanto quanto eu abraço ele, e ele brinca comigo tanto quanto eu brinco com ele. Em outra, pouco tempo e poucos encontros se tornam muito, quando há troca de músicas para banhar o ambiente. Há uma que consiste na Disney World dos cérebros. Seguindo, vejo uma em que anos de papos-cabeça conversam entre si, como que em uma gincana de personalidade e excentricidade. A parada seguinte é em uma dimensão com aspecto e ar sagrado, em que um mero segundo de presença é capaz de polir a alma a ponto de pô-la à semelhança de Luz. Há uma diplomática, com ar de infância madura. Outra boa parada: dimensão de ar lírico, paisagens modernas e clássicas, em que palavras simbólicas são capazes de realizar qualquer sonho que um coração consiga poetizar. Há ainda uma em que rege a ditadura de um bobo da corte, cujo pulso firme torna qualquer coisa hilária.

Essas dimensões são adimensionais e infinitamente finitas, tendo por fim o infinito. Cada uma se ramifica em inumeráveis ramificações, que continuam a se ramificar, cada vez mais a fundo, até voltar às dimensões originais - um sistema caótico, fechado e completo. Muitas ainda se cruzam em diversos afixos, coexistem em várias congruências, outras passam desapercebidas uma da outra, indo se encontrar no infinito. Muitas comportam muitos companheiros juntos, outras são exclusivamente exclusivas e exclusivistas.

Por fim, há, ainda, uma última, que engloba todas essas e aindas outras muitas. Essa tem um notado caráter auto-biográfico...


- MARCOS! Puts, onde cê tá com a cabeça, ein?
- ... Em outras dimensões, sorry. Bora jogar poker?!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

domingo, 8 de junho de 2008

Hero

Davids Cook and Archuleta (by Nickelback)

sábado, 31 de maio de 2008

E o tempo.......

Ah, o tempo...

It amazes me o que uma página de recados antiga faz... Olhando a data, no canto da página, não consigo sentir que estou a mais do que um mês dali. Mas estou a três anos.

Acho incrível ver quanta história tenho guardada dentro de mim, no meu subconsciente... Se páro para pensar, mesmo sem lembrar delas, todas as histórias da minha vida me trouxeram aonde estou, a quem sou, e me lembro delas, mesmo que não conscientemente, a cada momento, para que possa viver, para que possa ser.

Cada recado que eu lia abria uma portinha, aqui dentro, em algum lugar, cada uma em um lugar... E eu entrava por essas portas e ia parar láááá longe, no passado. Assistia a tudo de novo, quase revivia. (Revivia.) Assisti a tantos filmes dos últimos anos... Vi pessoas entrando em minha vida, crescendo nela, se tornando parte dela... Vi outras sendo envelhecidas, deixando minha vida... Vi sentimento. Vi muito sentimento. Aliás: vi só sentimento. E arrisco dizer que os senti, todos novamente.

A cada porta que eu fechava atrás de mim, ao sair, me caía um sorriso singelo no rosto, uma quase lágrima nos olhos e um peso no coração... seja de alegria, tristeza... saudade, decepção, desejo... nostalgia, muita nostalgia...

A cada filme que terminava, eu sentia mais a mim mesmo. Não digo que me entendia melhor, que sabia melhor quem sou ou mesmo que gostava mais de mim... Mas, com certeza, a cada memória (conscientemente) lembrada, eu era mais eu.

E o tempo.......

Ah, o tempo...

E o tempo passa...

domingo, 25 de maio de 2008

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Trabalho



Santo dia do trabalho, em que, em forma de celebração, ninguém trabalha.

A não ser eu: para homenagear de maneira digna este dia, passarei-o estudando.

lol

terça-feira, 29 de abril de 2008

Abraço

Via um verde esverdeado gramado, que se estendia infinitamente, com algumas magistrais árvores e ondas, por entre as quais figuras graciosas brincavam, nadando no amarelo-ouro dos raios de um magnífico Sol, que dançava à beleza das pinturas desenhadas por uma estupefante tempestade de relâmpagos no céu.

Nesse lugar, o ar era viscoso, os raios do Sol eram densos. Um ar morno, macio, sedoso, que passava por mim, oprimia-me, a princípio, o peito, mas fazia-me sentir bem; uma energia agradável tornava-o aconchegante, acolhedor.

Nesse lugar, todos as sensações eram uma só, unidas ao sentimentos, diluídos nos raios amarelo-ouro do Sol.

Nesse lugar, o chão era de tal forma macio que era como estar sobre a água, ou mesmo sobre o ar.

Nesse lugar, não havia sons, embora tudo soasse como sinestésicas sinfonias.

Nesse lugar, alguma magia ou concussão desapareceu com todos os meus problemas. Não consegui lembrar de nenhum, nem de nada de ruim, o que seria preocupante, não fosse tão bom.

Nesse lugar, não sentia meu coração no peito; sentia-o fora de mim, em tudo aquilo que ali era. Sentia-o, também, diferente, maior, melhor, mais quente, mais coração.

Nesse lugar, o tempo era curioso. Não parecia seguir, mas também não parecia parar; movia-se de forma aleatória - ia, voltava, parava, pulava, rolava, deitava, espalhava-se...

Nesse lugar, estava sozinho e não me sentia só. Porque, nesse lugar, eu estava e não estava: eu era esse lugar, e, ainda assim, esse lugar me fazia companhia.

Com os olhos fechados, via uma daquelas imagens tipo landscape: um verde esverdeado gramado, que se estendia infinitamente, com algumas magistrais árvores e ondas, por entre as quais figuras graciosas brincavam, nadando no amarelo-ouro dos raios de um magnífico Sol, que dançava à beleza das pinturas desenhadas por uma estupefante tempestade de relâmpagos no céu.

Com os olhos abertos, vi o abraço romper-se, e aquela imagem afastar-se rapidamente de meus olhos. Senti o peito apertar.

Ao apertar o coração, abriram-se seus olhos; pude então voltar a estar lá, naquele lugar; pude voltar a sê-lo.

Com o coração e os olhos abertos, continuei a andar e a conversar com ela.


[ Senti-me muito bem, porque, além de tudo, momentos assim andam raros. Qualquer abraço de verdade é assim. O problema é encontrar abraços de verdade. Abraço de verdade... é aquele apertado., que encaixa., sem pressa de separar. como se as duas almas aproximassem-se o máximo uma da outra, elas mesmas tentando abraçar-se. É difícil encontrar isso... ]

Só na valsa

Dando uma vasculhada pelo arquivo do blog, pra catar meus favoritos pra mostrar pra Cida - se ela estiver lendo, oooooooooi Cidaaa! -, vi este post aqui e achei que valia desenterrá-lo e plantá-lo de novo aqui em cima.

Êi-lo, pois:

Curioso o tanto de coisa que tirei a partir da aula de História hoje (como eu tava com saudade das aulas de Ivaninha! haha ^^ )...

Pra começar, me surpreendi exatamente com isso - como eu gosto das aulas de História. Passei o resto da manhã (a aula foi no 5º horário) e uma boa parte da tarde pensando nisso... E acabei percebendo que, como já me foi dito, isso é coisa minha, característica minha... gostar das coisas.

Tomando meu banho de princesa agora de tarde, ouvindo Lenine, fiquei meio vegetativo debaixo do chuveiro - que nem os monges que ficam meditando debaixo das cachoeiras ;p - quando tocou Paciência. Olha a letra, pra eu poder explicar o porquê desse "baque meditativo".

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma,
até quando o corpo pede um pouco mais de alma,
a vida não pára.

Enquanto o tempo acelera e pede pressa,
eu me recuso, faço hora, vou na valsa...
A vida é tão rara...

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
e a loucura finge que isso tudo é normal,
eu finjo ter paciência.

E o mundo vai girando cada vez mais veloz.
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
um pouco mais de paciência.

Será que é tempo que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara... tão rara...

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma,
até quando o corpo pede um pouco mais de alma,
eu sei... a vida não pára... a vida não pára, não...

Será que é tempo que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara... tão rara...

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma,
até quando o corpo pede um pouco mais de alma,
eu sei... a vida é tão rara... a vida não pára, não...
A vida é tão rara...
A vida é tão rara...



Enquanto o tempo acelera e pede pressa, eu me recuso, faço hora, vou na valsa... A vida é tão rara...

Esse trecho, ou melhor, essa idéia não me sai da cabeça agora.

O tempo não vai me impedir de curtir minhas aulinhas de História (metonimicamente falando ;p ).

Continuo querendo tê-lo - o tempo - como amigo. Por isso não vou ficar brigando com ele só porque ele fica querendo correr.

Só vou fazer hora com a cara dele, enrolar um pouquinho, e vou valsando pelos dias afora...


...porque a vida é rara demais e eu quero dar a ela a atenção que ela merece e aproveitá-la direito.

;)
(A história do baque meditativo causado pela aula de história... bem... Dessa vez o baque foi causado pelo baque causado pela aula de história, àquela época. ;P )