Não vi nada de Wimbledon esse ano, graças à infeliz coincidência entre as duas semanas do torneio e as minhas duas semanas de simulado. Nem a chave do torneio eu imprimi. (O peso disso: imprimi, com uma semana de antecedência, a chave de todos os Grand Slams dos últimos dois anos, e preenchi, a mão, dia a dia, do primeiro ao último jogo, e ainda guardo todas juntas.) u.u'
Enfim... Acordei hoje, cedo, tendo visto só um jogo do torneio, gravado ainda por cima. Mas pelo menos a final eu ia ver. Federer e Nadal. Na minha lista de passatempos prediletos, tá lá, lá em cima, Federer e Nadal.
Roger Federer, o Leão da Montanha*, é considerado por muitos - por Nadal, inclusive - o "maior de todos": mais veloz, mais habilidoso, mais inteligente, mais completo, mais versátil, mais focado, mais intenso, mais brilhante, mais mais, mais tudo; um verdadeiro mago dentro de quadra, com seus inúmeros recordes, um verdadeiro gênio, o verdadeiro gênio.
Rafael Nadal, o Touro Miúra* é um monstro psicológico e físico dentro de quadra: com um foco e uma atitude perfeitos, não larga o osso por um segundo que seja, vai em todas as bolas, chega em todas as bolas, chega bem em todas as bolas; menos habilidoso, menos genial, menos completo, menos versátil, mas perfeito tatica, fisica e mentalmente, o tempo todo.
Números 1 e 2 do mundo, respectivamente, já há mais de quatro anos, os (a essa altura) compadres já se enfrentaram 17 vezes - maior rivalidade do tênis atual, de longe. No embate de titãs, a soma de vetores sempre tendeu para o lado espanhol: Federer 6 x Nadal 11. O suiço sempre demonstrou grandes dificuldades - aquelas que todos têm ao jogar contra ele - ao enfrentar o espanhol. A situação chegou ao ponto de Federer ser dito freguês de Nadal.
Ao longo desse caminho, o 1 tornou-se Imperador de Wimbledon, com 5 títulos consecutivos e status de Deus em Londres; o mesmo com o 2, em Paris: tricampeão consecutivo, nunca perdeu um jogo sequer em Roland Garros, o Rei do saibro.
A única coisa que impedia um de conquistar o império do outro é o próprio outro. Roland Garros, maio/junho de 2006, final, Nadal e Federer, vitória de Nadal. Wimbledon, junho/julho de 2006, final, Federer e Nadal, vitória de Federer. Roland Garros, maio/junho de 2007, final, Nadal e Federer, vitória de Nadal. Wimbledon, junho/julho de 2007, final, Federer e Nadal, vitória de Federer.
Eis que chega 2008. Federer investe pesado em seu jogo no saibro, visando abertamente enfim ganhar o Aberto da França. Entrou como um foguete nos 2 Maters que antecederam Roland Garros, jogou como nunca no saibro, chegou com tudo em ambas as finais. E, em ambas as finais, tremeu diante de Nadal, chegando a liderar alguns sets por 5x1 e perder por 7x5. Sem se deixar abalar, chegou como um trator nas quadras de Paris e à final. Somente para sofrer a pior derrota que já o vi sofrer, em um jogo patético de menos de 2 horas.
Mas tudo bem, em Wimbledon seria sua vez.
Não vi seus jogos, somente a semi-final gravada. O bastante pra me impressionar. Fazia tempo não o via tão bem. Perdeu seu saque somente duas vezes em todo o torneio.
Estou me esquecendo do espanhol. Nadal também, ouvi dizer, chegou voando à final, como tem sido em todo o ano. E que ano! Nadal atingiu seu auge: seus adversário andam se matando para ganhar um, dois games dele.
Enfim...
Não poderia existir atmosfera melhor para receber a grande final do maior torneio da história do tênis, com mais de 120 anos de tradição. A quadra central do All England Club consiste no maior templo do esporte. E tanta magia não merece nada menos que uma final tão tão, entre dois dos maiores da história.
10 horas, hora do espetáculo.
Mas a chuva chegou antes. O início da transmissão mostra uma lona sobre a verde e desgastada grama. E assim foi por mais de uma hora.
Mas Federer escorregou, como ele sempre escorrega contra Nadal, e perdeu o saque pela terceira vez no torneio. O espanhol, que nunca escorrega contra Federer, não escorregou, e levou a vantagem até o final do set, até o 6x4.
O segundo set foi mero replay do primeiro. Outro 6x4 para Nadal.
O terceiro ia da mesma forma, equilíbrio total, ainda sem o escorrego de Federer. A hora da onça beber água** chegou, 4x4, Federer no saque, 40 iguais, e a chuva veio matar a sede da onça. E lá se vai mais meia hora de reprise, agora do jogo que eu gravei.
O sol, aquele sol sem vergonha londrino, resolveu sair e assistir o jogo, que esquentou diante do novo espectador.
Federer não escorregou, levou o set ao tie-brake e venceu.
O quarto set seguiu com um equilíbrio ainda maior, o que eu achava impossível. Sem quebras de saque, de volta ao tie-brake. E que tie-brake! Pra falar pouco, Nadal fez mágica para chegar ao match-point, com o saque. Federer contra-atacou com mágica ainda mais absurda, para salvar o match-point. E acabou ganhando o set.
Nessa brincadeira, sem contar as paralizações, já se havim ido quase 4 horas de jogo. Cenário perfeito para um quinto set sem tie-brake.
Eu, já sentado na ponta do sofá, tremendo de excitação, assisti a mais um pouquinho de puro equilíbrio, que levou o set a 2x2 e 40 iguais, antes de o sol se retirar, nervoso que estava. E dá-lhe chuva.
Quando a chuva foi embora, o sol não voltou - já anoitecia em Londre. E mais essa: Wimbledon, com todas suas tradiões centenárias, não usa luz artificial. Graças a Deus que o verão europeru vê luz do dia até 10 da noite. E já eram mais de 9.
Foram-se mais quase uma hora, e o jogo chegou a um final indescritivelmente indescritível. À altura do 6x6 eu já gritava com cada ponto - e olha que eu não torcia pra ninguém; ou melhor, torcia pros dois, torcia pro jogo não acabar nunca mais. A coisa chegou a um ponto em que não havia nada que separasse os dois, eles eram iguais, perfeitos. Uma batalha épica, digna de Cavaleiros do Zodíaco, Senhor dos Anéis, Tróia, Matrix e qualquer outra. A coisa chegou a um ponto em que a única razão que levaria um dos dois, qualquer um dos dois, a vencer seria que alguém tem que vencer. Eu, por mim, rachava o troféu no meio e dava metade pra cada. Faria o mesmo com a glória, mas nisso existe justiça, e ela estava muito a minha frente: não existe glória maior que fazer o que aqueles dois estavam fazendo ali. E não existe glória maior, pra mim, que assistir àquilo, assistir à história sendo feita.
O jogo terminou, infelizmente, com incríveis (mas poderiam ser mais) 4 horas e 48 minutos. 3 sets a 2: 6-4 / 6-4 / (5)6-7 / (8)6-7 / 9-7. E eu terminei também, extasiado, emocionado - lágrimas chegaram a pular dos meus olhos, querendo elas também ver o espetáculo. Um jogo que tomou proporções tão incríveis, que agora simplesmente não consigo mais usar palavras pra me expressar.*Títulos conferidos pelo comentarista Dácio Campos. **Expressão do comentarista Osvaldo Maraucci.
4 comentários:
ah, detalhe: Nadal ganhou.
Não espero nem que alguém leia isso tudo.
A questão é só que a memória desse jogo merece ser registrada.
;)
PU#$%*¨$...quase q eu não aguentei! Foi difícil mas eu consegui ler tudo Marcos.
hhahaha=p
Devo registrar minha sincera admiração por certos esportes, minha preguiça de ler tudo depois de uma final de semana maravilhoso e longe de casa e meu sono. Logo, beijundinhas e fui!
hahahaha
Dormir de vez em quando é bom!
=*
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