CIENTIFICISMO + LIRISMO

Mas a vida é tão maior que as palavras...

"(...)quando o acontecimento não cabe nas palavras, eu costumo usar as palavras, ao contrário, para caberem no acontecimento. Não é a mesma coisa, né, mas quase serve."

(Thami)

domingo, 15 de julho de 2007

Imaginação

Agitou o braço e o ônibus verde passou por ele, indo parar alguns metros a frente, obrigando-o a correr e pular porta adentro, quando esta já quase se fechava. Ajeitando o cabelo bagunçado pelo vento com uma mão e tentando pegar uma nota de dois no apertado bolso da calça-jeans com a outra, fez uma careta risonha para o motorista, que retribuiu o riso, debochado. O ônibus arrancou e ele, com as mãos ocupadas, por um pouco não caiu: mais um par de risos.

Entregou uma nota de dois amassagada ao trocador e, sem ter onde sentar, ficou de pé em frente à porta do meio, escorando-se na janela, sambando para se equilibrar. Seus olhos, fisgados pela janela, viam tudo e nada, lá fora.

Viu um menino, com uma vassoura (bela vassoura) nas mãos, alçar vôo, discretamente, em meio aos transeuntes, sem ser notado. Viu-o subir, subir, sumir. 'Que maneira interessante de viajar', pensou. Deu sinal para o ônibus parar e desceu. Tirou uma varinha do bolso, agitou-a e uma vassoura chegou voando até ele. Montou-a e imitou o menino: subiu, subiu, sumiu.

Estava em um grande estádio, lotado, muito bonito. Por entre os outros que voavam com ele ali, viu um pequenino brilho dourado, e partiu, a toda velocidade, atrás dele. O vento forte em seu rosto agitava seus cabelos, mas não o fazia sentir frio, a adrenalina não permitia. Aproximando-se mais e mais do brilho, soltou uma das mãos do cabo da vassoura e esticou-a, tentando fechar os dedos em torno da pequena esfera. Conseguiu! Sentiu-a lutar batendo contra seus dedos, da mesma forma que seu coração contra seu peito, excitado, feliz.

Estava de volta a rua de onde saíra, ou pelo menos assim pensara. Havia menos prédios, menos gente, menos anos na rua, como se ele tivesse voltado no tempo. Via, agora, um menino. Estava subindo o arco de um viaduto. Apressou-se em juntar-se a ele. Chegando ao topo, iluminados pelo sol poente, ele pôde sentir a beleza da cena, sentiu-se novamente feliz, realizado, ali, junto daquele que, não sabia porque, parecia que sempre estava com ele.

Estava, agora, em um ginásio. Lotado, com um palco bem na frente. Uma música começou a tocar: da-da-da da-da-da-da-da-da. Seu coração se encheu tão rapidamente de uma emoção tão grande, que a única coisa que impedia seu peito de explodir de felicidade era cantar junto. No palco, cada vez mais perto dele, estavam quatro figuras, feias, mal vestidas, mas que ainda assim enchiam seus olhos. Olhou em volta, não havia mais ninguém. Olhou para frente, não havia mais palco. Aliás, não havia mais ginásio. Ele e as quatro figuras estavam na varanda de sua casa, conversando e cantando.

Estava novamente no ônibus, trazido de volta por uma parada brusca que jogou sua canela contra o ferro do banco a sua frente. Conveniente, dentro da margem do possível: seu ponto era o próximo. Deu sinal para parar e desceu, mancando. Tirou uma caneta e um pedaço de papel do bolso: uma lista. Correu-a com os olhos, cortou alguns 'usar a imaginação' dos muitos que ali havia e seguiu seu caminho.

4 comentários:

Anônimo disse...

imaginação ;D lol

Marcolino disse...

^^

Anônimo disse...

Ah, eu conheço esse menino do viaduto: ele também me acompanha vida afora, sabe? Desde o grupo onde ele estudou e onde eu me sentei ano passado pra fazer uma estranha prova de vestibular ao seu mundo exposto dentro de um palácio bonito e com um nome sugestivo: liberdade. É isso que nos causa a imaginação, nada menos do que liberdade. :)

Anônimo disse...

assinado: Pru.