Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionárioo cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
[ Manuel Bandeira ]
Não sou muito dado a musas inspiradoras ou coisas do tipo. Mas, sempre que algum tipo de literatura ou qualquer arte que seja perpassa por minha mente, não consigo deixar de ver nesse poema uma perfeita definição do que é arte pra mim. E, também, quando minhas vontades de escrever e minhas faltas de "material" pra escrever coincidem, costumo recorrer a ele, buscando inspiração ou orientação. (Não costuma adiantar de muita coisa, mas enfim... :p )
Um comentário:
Manuelzinho.... Eu ando pelas mesmas ruas que ele. feliz por isso. ^^
É mesmo foda a poesia desse sujeito.
;**
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