[Texto de 2007, de antes de eu ter o blog.]
Jantar com amigos
-Tem certeza de que não quer comer nada?
-Tenho... Tenho sim, brigado. Não tô com fome não. Acho que sou movido a felicidade – soou ridículo, por isso todos riram e continuaram a jantar e a conversar. Gostava de dizer bobagens, fazer palhaçadas, comentários engraçados... gostava de fazê-los rir.
Mas, desta vez, falara sério, mesmo que em tom de brincadeira. Realmente não sentia fome. Nem tédio, sono, cansaço ou qualquer outra dessas sensações ruins que se sente a toda hora. Ou melhor, quase a toda hora. Porque não sentia nada disso quando estava com os amigos. Por que não sentia nada disso? Só sabia mesmo era que não sentia. Amizade. Amizade... Amizade tem mesmo dessas coisas estranhas... sem sentido... boas... Amizade... Será que aquelas pessoas ali, jantando, conversando, sabiam que causavam tal inexplicável efeito em alguém? que eram tão importantes na vida de alguém? Provavelmente não. Será que era assim tão importante para elas também...? Não era algo muito agradável de se pensar... principalmente para alguém com o tal “complexo de time pequeno”. Aquela história do futebol, que o time pequeno sempre se acha inferior aos demais, sempre abaixa a cabeça para os grandes, achando-se indigno de estar entre eles, porque eles são tão melhores etc e tal... Costumava ver a amizade, de certa forma, dividida em duas: o Sentimento de Amizade e a Amizade em si. O Sentimento é a parte individual, a parte que depende de somente um dos dois lados, era disso que realmente entendia, nisso que realmente gastava horas pensando. A Amizade em si é mais, é maior, é a evolução do Sentimento dos dois lados, é convívio, contato, sintonia, depende do Sentimento dos dois lados, é quando qualquer um dos dois pode dizer, sem receio, “Eu sou amigo dele”. Para alguém com o “complexo de time pequeno”, demora um pouco até poder dizer isso. O que sabia é que aquelas pessoas ali, jantando, conversando, podiam dizer isso sem medo, pois elas eram os tais “melhores amigos”. Como disse Vinícius de Moraes, “tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. (...) A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. (...) Mas, porque não os procuro, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.” Nenhum deles estaria lendo estes pensamentos, mas enfim... deu pra entender. Poderia citar todo o texto “Amigos”, de Vinícius, mas o que é realmente o ponto de tudo isso é que, em termos de Sentimento, era especialista. Com certeza. Especialista.
-Marcos?
-Ahn? Oi? Oi!
-Você tá bem?
-É, cara, você tá todo autista aí.
-Ah, não, não, tudo bem sim. Eu só tava viajando um pouco aqui. Pensando na vida, sabe – e todos riem de novo.
-Alguma super resolução nova?
-Sempre tem alguma. Mas eu penso demais, você sabe disso. Bom, vou-me indo. Vou pra casa comer alguma coisa e dormir, que estou ficando com fome e com sono. Tchau tchau pra vocês – levantei-me, rindo, e fui saindo, ao som de xingamentos e mais risos de meus amigos.
Um comentário:
quando eu comecei a ler seu blog, esse foi disparado o texto que eu mais gostei. :D
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