Já perdi a conta de quantas vezes ouvi a pergunta você acredita em amor à primeira vista?, algumas até dirigidas a mim. Nesses casos, sempre tive a resposta seca na ponta da língua:
não.
Não, porque tal idéia contraria uma das minhas mais fortes crenças e, a meu ver, uma das leis mais absolutas da natureza: a lei da afinidade.
Os afins se atraem; naturalmente somos levados a conviver com pessoas e a vivenciar experiências que condizem com nosso estado de espírito. Faça a experiência: saia, um dia, andando por algum corredor, impassivo, inexpressivo - repare no número de "bom dia"s ou mesmo de cumprimentos mais secos que você colecionará; no dia seguinte, saia com a cara amarrada, pisando forte, emanando mau humor - repare na redução drástica dos cumprimentos; no próximo, saia com um sorriso na cara, andando leve, simpático - haverá mais cumprimentos e bem mais "bom dia"s que no primeiro dia e, definitivamente, que no segundo.
Bom, agora quanto ao amor: é o sentimento maior que existe, o mais forte, o mais pleno. E, obedecendo à lei da afinidade, ele é cultivado. Você não pode amar uma pessoa logo que a vê pela primeira vez, pois vocês não se conhecem, não há nada que leve à formação dos laços entre ambos os espíritos, os quais constituem o amor. Amor à primeira vista contraria a lei da afinidade, porque pressupõe a formação do sentimento mais complexo que existe em uma fração de momento, sem haver tempo para se fortalecer qualquer atração.
Mas..... Eventos recentes me despertaram a dúvida: será mesmo que contraria?
Vejamos a coisa por outro ângulo:
Acho que é bastante evidente para todos que o nosso estado de espírito/emocional influencia mais do que só nós mesmos. Mas eu acredito que não são somente nossas emoções mais explícitas que transparecem, mas também a nossa essência. Não há como escondermos quem somos, nossa essência. Não precisamos falar, nem mesmo agir para sentirmos aquilo que somos, e isso é o bastante para emanarmos uma energia, que é reflexo daquilo que somos. (Não tenho conhecimento/estudo nem na área religiosa nem na científica que abrangem essa questão suficiente para não ser vago - não vou usar termos como "aura", "astral", etc - mas acredito que dê pra pegar a idéia.) Por que a mera presença, sem necessidade de fala, ação, nada, de um amigo é o suficiente para nos fazer bem?; por que uma mera conversa com alguém razoavelmente mais agressivo nos oprime? (Perguntas retóricas.) Eu acredito, sim, que nossos espíritos emanam energias/vibrações "próprias", características, e que podem ser percebidas e que dizem sobre tal espírito.
Patindo dessa idéia (já disse, mas repito: foda-se a reforma =p ), é aceitável acreditar que duas pessoas, dois espíritos, ao se encontrarem pela primeira vez, podem interagir, ser influenciados um pelo outro, ter uma "amostra" um do outro? Acredito que sim.
E, nessa situação, é também aceitável que, em um caso excepcional talvez, essa primeira interação, influência, "amostra" possa ser tão afim para ambos, ou para um (amor à primeira vista tem que ser recíproco?), que leve ao despertar de um sentimento forte, intenso, complexo como o amor?
Bom, depois de refletir aqui enquanto escrevo, devo dizer que minha resposta para a segunda pergunta permanece não.
Mas
não creio haver para mim agora nenhuma dúvida de que é possível, nessa situação, que se desperte um sentimento muito forte, não tanto quanto o amor, mas, ainda assim, muito forte. Um mix de fascinação, encantamento, carinho, afeto, até um pouco de paixão e desejo, naquele sentido de querer ficar junto, querer ter uma história - e, por que não?, querer ter amor.
De fato, isso não é amor. Não existe amor sem convivência, sem história. Mas isso existe. E é forte. E natural.
3 comentários:
Makes sense.
Thanks. :]
Complexo, o amor.
Completo, o amor.
Incompreendido.
Indecifrável.
Icógnita
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